segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Conceitos sobre hiperatividade


Conceitos dos autores

Muitos profissionais da educação estão usando o termo hiperatividade, quando uma criança não para quieta. Porém, este não é um diagnóstico fácil de realizar e o professor não tem o conhecimento necessário e nem pode realizar exames mais aprofundados.
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas alguns autores usam a terminologia Desordem em lugar de Transtorno, ficando DDAH, é um transtorno neurobiológico mais comum na infância, caracterizado por três sintomas básicos: a desatenção, a agitação (hiperatividade) e a impulsividade, que se manifestam em ambientes diferentes, tais como em casa e escola, causando comprometimento comportamental perante o meio social.
[....] Este transtorno é considerado uma doença relacionada à essência de produção de determinados neurotransmissores que são substâncias produzidas em maior ou menor quantidade no sistema nervoso central e regula o funcionamento do mesmo (Dr. Dinizar de Araújo Filho – 2003).
Para as autoras Ana Helena do Amaral e Marilisa M. Guerreiro (p.884, 2001):
“O TDA/H é visto como a mais freqüente desordem comportamental da infância. O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDA/H) é caracterizado por padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade, que é mais freqüente e grave do que é tipicamente observado em indivíduos no nível comparável de desenvolvimento.”

Segundo Sandra Fortuna:

“A Hiperatividade é um desvio de comportamento caracterizado pela diminuição da persistência e consistência na realização das atividades diárias (como assistir TV, realizar tarefas escolares, participar de jogos dentre outros) e pela excessiva movimentação de corpo (pernas, braços, mãos, cabelo, etc.), pela impaciência constante que promovem mudanças freqüentes de atividades, e pela capacidade de mexer em tudo, sem necessidade e sem propósito, pela falta de limites e pela falta de noção do perigo.”(p. 03, 2003)
A Prof. Dra. Magda Vaissman (Psiquiatra) conceitua o TDAH :
“É um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais freqüente e severo do que aquele tipicamente observado em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. Alguns sintomas hiperativo-impulsivos que causam prejuízo devem ter estado presentes antes dos 7 anos, mas muitos indivíduos são diagnosticados depois, após a presença dos sintomas por alguns anos. Algum prejuízo devido aos sintomas deve estar presente em pelo menos dois contextos (por ex., em casa e na escola ou trabalho). Devem haver claras evidências de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional apropriado em termos evolutivos. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não é melhor explicada por um outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou Transtorno da Personalidade).”(p. 02, 2005)
Para os autores Luís Augusto P. Rohde e Edyleine B.P. Benczik o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (p.37, 1999): “é um problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade”.
Segundo a especialista em Psicopedagogia Maria Irene Maluf, sua causa ainda não está perfeitamente definida, mas já se sabe que diz respeito a três aspectos: o biológico (que é a parte genética e hormonal), o psicológico e o social.
“É um transtorno de origem biopsicossocial, ou seja, não se pode separar a causa genética da psicológica e da social. Para que a criança desenvolva o transtorno, é preciso que ela nasça com uma predisposição genética e ainda tenha uma estimulação do meio para desenvolver, em maior ou menor grau, esse transtorno”, explica. (p. 24, 2006)
O TDAH é uma doença que afeta de 3 a 5 % da população escolar infantil, comprometendo o desempenho, dificultando as relações interpessoais e provocando baixa auto-estima. (SMITH e STRICK, 2001)

Referências
AMARAL, Ana Helena do e GUERREIRO, Marilisa M. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade-Proposta de Avaliação Neuropsicológica para Diagnóstico. Arq. Neuropsiquiatr 2001; 59(4): 884-888.

ARAÚJO, Dinizar. Entrevista: Hiperatividade. Petrópolis.2003

FORTUNA, Sandra. Hiperatividade- Escola: prazer ou terror? Disponível em http://www.acessa.com/vidasaudável/dicas/hiperatividade.htm. Acessado em 09 mar 2008.

VAISSMAN, Magda. Taxas de Prevalência Periódica de Transtornos Mentais. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 43, nº 09, 1944.

SMITH, Corinne e STRICK, Lisa. Dificuldades de aprendizagem de A a Z, 1ª ed. Porto Alegre, 2001, 334p.

MALUF, Mª Irene. Aprendizagem- Tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade. São Paulo: Ed.01, 2006, 244 p.

ROHDE, Luis Augusto; BARBOSA, Genário; TRAMONTINA, Silzá e POLANCZYK, Guilherme. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Revista Brasileira de Psiquiatria 2000;22(Supl II): 7-11.

ROHDE, Luis Augusto P. e BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: o que é? Como ajudar?. Porto Alegre: ARTMED Editora, 1999.

Legislação que ampara à temática


De acordo com a Declaração de Salamanca, Espanha, no dia, 10 de Junho de 1994, cujo o 2º princípio, acreditamos e proclamamos que:
- cada criança tem o direito fundamental à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e manter um nível aceitável de aprendizagem,
- cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias,
- os sistemas de educação devem ser planeados e os programas educativos implementados tendo em vista a vasta diversidade destas características e necessidades,
- as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades,
- as escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa óptima relação custo-qualidade, de todo o sistema educativo.
A política de educação inclusiva, no Brasil, está embasada na Declaração de Salamanca. Que afirma ser as escolas regulares os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias. Porém, segundo Tânia Regina Laurindo (p.10, 2003): “Promover uma inclusão efetiva coube e está cabendo a cada professor, a cada escola”.
Para a educadora Tânia Regina Laurindo (p.11, 2003)“O primeiro passo da inclusão é entender e aceitar que cada criança tem um ritmo, tendo ela uma necessidade especial ou não. Além disso, a escola precisa de um bom projeto pedagógico”.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, dedica um capítulo específico para a educação especial, explicitando o papel e as obrigações sobre a adequação do ensino aos alunos com necessidades especiais, onde poderíamos incluir o TDAH, embora não esteja citado. No artigo 59 expõe-se:
Os sistemas de ensino asseguram aos alunos com necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não poderão alcançar o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atenção especializada, e professores do ensino regular capacitados para a integração desses alunos nas salas comuns.
Sendo assim, a flexibilidade na implantação dos currículos adaptados, com avaliação diferenciada e estratégias individualizadas, é prevista e incentivada pelo órgão regulador.
Porém, segundo a fonoaudióloga Carmem Minuzzi (p. 05, 2005): “As escolas de hoje são muito conteudistas. É preciso mudar a forma de ensinar para mudar os temas de aprender, visto que existem diferentes formas de promover o desenvolvimento da criança”.
Esse transtorno é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola. (ABDA) 

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO - ABDA. Hiperatividade. Disponível em http://www.tdah.org.br. Acessado em 09 mar 2008.
LAURINDO, Tânia Regina. A leitura como um dos sentidos da vida. Palavra do Professor. Campinas: Mercado de Letras, 2003, v.01, p.09-197.

História através do século - Hiperatividade



A primeira descrição da hiperatividade data de 1902, quando um médico inglês, G. Still, descreveu um conjunto de alterações de comportamento em crianças, as quais, segundo ele, não podiam ser explicadas por falhas ambientais, mas resultavam de algum processo biológico desconhecido até então.
Entre 1916 e 1927, nova onda de interesse por esse quadro clínico surgiu graças à observação de manifestações semelhantes em crianças que foram acometidas pela encefalite epidêmica de Von Economo. Os adultos que tinham sofrido dessa encefalite desenvolviam como sequela um quadro parkinsoniano, ao passo que as crianças passavam a mostrar um quadro de hiperatividade e alterações da conduta.
O tema das lesões de nascimento e danos cerebrais persistiu nos anos 30 e 40, na idéia da criança com lesões cerebrais, mesmo quando nenhum indício de danos neurológicos era encontrado. A lesão cerebral era invocada para explicar comportamentos incontroláveis. Ao longo dessas décadas, a medicação estimulante (anfetaminas) foi testada pela primeira vez e com sucesso, para ajudar a algumas dessas crianças.
Essa condição pautada nas lesões recebeu diversas denominações, ao longo do tempo: Lesão Cerebral Mínima, Disfunção Cerebral Mínima, Síndrome da Criança Hiperativa, Distúrbio Primário da Atenção e Distúrbio do Déficit de Atenção, com ou sem Hiperatividade (DDA/H).
Em 1960, Stella Chess começaram a escrever sobre a Síndrome da criança hiperativa. Chess encarava os sintomas como parte de uma hiperatividade fisiológica, cujas causas estariam enraizadas mais nos determinantes biológicos.
Na década de 70, muitos pesquisadores investigaram a síndrome da hiperatividade, Virginia Douglas no Canadá, começou a dedicar um olhar abrangente aos sintomas associados à hiperatividade e encontrou quatro características principais: (1) déficit de atenção e esforço; (2) hiperatividade; (3) problemas na regulação do nível de vigília; e (4) necessidade de reforço imediato. Graças a essas pesquisas, em 1980, a síndrome foi rebatizada como distúrbio do déficit de atenção. (HALLOWELL, 1999)
Os estudos sobre DDA, na sua maioria, referem-se a crianças. Os critérios diagnósticos do DSM-IV, que apontam para características mais facilmente observáveis em crianças que em adultos e, por essa razão, ao ser feita uma avaliação visando o diagnóstico, muitos adultos acabam não preenchendo esses critérios.
Até recentemente, acreditava-se que os sintomas de DDA desapareciam espontaneamente na adolescência. Mais recentemente, Paul Wender e outros autores (1995) descreveram casos em adultos, e o pensamento atual é que o DDA persiste em aproximadamente 50% a 80% dos casos na idade adulta, embora o quadro clínico, com frequência, sofra alguma modificação. Com o passar dos anos, os sinais de hiperatividade tendem a diminuir, algumas características de impulsividade podem persistir e os traços de desatenção são os que mais tendem a perdurar. Paralelamente a essa mudança na apresentação do quadro, com o tempo, outros transtornos costumam se associar ao problema básico, muitas vezes sobrepondo-se ao mesmo.
Na literatura médica, as primeiras referências sobre os transtornos hipercinéticos, apareceram no meio do século XIX, sofrendo constantes mudanças de nomenclatura, pois na década de 40, surgiu a designação de “lesão cerebral mínima”, sendo modificado em 1962 para “disfunção cerebral mínima”, reconhecendo-se as alterações características da síndrome relacionando-a mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas. (LUIS AUGUSTO ROHDE, GENÁRIO BARBOSA, SILZÁ TRAMONTINA e GUILHERME POLANCZYK, p. 7, 2000)
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO - ABDA. Hiperatividade. Disponível em http://www.tdah.org.br. Acessado em 09 mar 2008. 
BALLONE GJ - Problemas Emocionais na Escola, Parte 1, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2004. Acessado em 09 mar 2008.
ROHDE, Luis Augusto; BARBOSA, Genário; TRAMONTINA, Silzá e POLANCZYK, Guilherme. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Revista Brasileira de Psiquiatria 2000;22(Supl II): 7-11. 
ROHDE, Luis Augusto P. e BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: o que é? Como ajudar?. Porto Alegre: ARTMED Editora, 1999.